Por que sou jornalista...
A vida tem seguido em frente... estou bastante ausente aqui no Impressão, mas estou bem. Duas matérias minhas foram publicadas no impresso nestas últimas semanas, e é sobre elas que eu quero falar.
A última, e mais recente, saiu no último sábado. Foi sobre o centenário de nascimento do poeta gaúcho Mário Quintana. O resultado foi muito legal e, só no final, eu pude ver o quanto ela valeu a pena. A sugestão da pauta foi minha. Quer dizer, em fevereiro, quando eu comecei a conversar com o editor do caderno de Cultura do AN eu disse pra ele que gostaria de fazer o centenário pois tinha uma história legal para contar. Minha idéia, minha pauta, minha pesquisa, meu texto (isso é levemente óbvio, ok) e, sim, minhas fotos! Ficou muito boa, e o reconhecimento também tem sido muito legal.
A anterior, que foi publicada no último dia 15 também foi legal, e tem uma história... curiosa.
No meio da semana após a Copa do Mundo eu estava fazendo o meu trabalho diário (do qual eu gosto muito, mas que não tem nada a ver com essas matérias) quando de repente eu ouço alguém na redação dizendo: "O Fábio, o Fábio, o Fábio!!"
Me virei para ver o que passava. Joinville é sede, no mês de julho, do Festival de Dança. O jornal tinha conseguido uma entrevista com o coreógrafo nova-iorquino David Parsons, dono da Companhia que leva o seu nome e que viria para a noite de gala do Festival. Problema: ninguém tinha inglês para fazer a entrevista, que seria por telefone. Aí pensaram em mim, e eu topei.
Fiz um "mídia training" (conversa sobre Dança e sobre a pauta) com uma colega que entende do assunto. Anotei as perguntas que eles gostariam de fazer, sugeri algumas e fui à luta.
Liguei. Tenho essa ligação gravada. No início, nítidamente nervoso, cometi alguns erros de inglês e de postura. Mas no final, deu tudo muito certo, e acabou sendo uma conversa agradável. O coreógrafo sugeriu que eu fosse assistir o espetáculo, e que fosse conhecê-lo no camarim. Disse que ia tentar conseguir as entradas, mas não dependia de mim.
Consegui a entrada, mas em um lugar comum. Não me parecia ter possibilidade de encontrá-lo. Mesmo assim eu fui, e valeu muito a pena. Eu nunca havia assistido um espetáculo de Dança, e achei muito bonito mesmo. Sendo Dança Contemporânea, foge um pouco das coreografias do balé e do jazz, mas não esquece delas.
Dois quadros merecem destaque. Um, onde apenas 2 focos de luz, intensos e curtos, que se cruzavam no meio do palco, iluminavam o que os atravessavam. O resto, penumbra. A dança? Toda feita com as mãos. Isso mesmo, apenas mãos! De uma simplicidade e criatividade absurdos!!
No outro, um dançarino dava pulos altos no ar, abrindo as pernas totalmente na horizonal quando atingia o alto. O detalhe é que não havia qualquer iluminação, se não um flash, que piscava a cada 3 segundos, mais ou menos. O efeito final é que o dançarino parecia estar voando, pois a cada vez que a luz acendia ele estava na mesma posição, mas um metro adiante. Fantástico!
Acabado o show, todos começaram a sair. Eu tinha combinado com uns amigos de encontrá-los na saída do teatro, mas notei que o camarim era acessível a partir da platéia. Resolvi arriscar. Falei com um dos organizadores, e descobri que ele tinha feito o contato entre o jornal e o coreógrafo. Feito! Ele me levou até o cara.
Quando entramos no camarim, a conversa foi mais ou menos assim:
Organização: "- Sr. Parsons, este é o jornalista que lhe entrevistou por telefone e..."
Parsons (já virado pra mim e estendendo a mão): - "Fábio! Como estão as coisas?"
É. O cara se lembrou de mim. É claro que ele não é exatamente o cara mais importante do mundo, mas para um jornalista iniciante foi muito legal. Ficamos conversando enquanto ele auxiliava a sua equipe a se preparar para ir embora.
Para mim, do telefonema ao encontro, foi uma experiência de vida muito legal. Afinal, sou jornalista para conhecer pessoas, culturas e aprender! Sobre o Quintana, também sou jornalista para saber mais, conhecer mais, ir fundo em aspectos novos sobre velhos assuntos, e para falar sobre o que eu gosto para as pessoas. Talvez aí até haja um certo idealismo, mas eu gosto muito de conversar, de comentar, de explicar. E, para isto, o jornalismo é um prato cheio.
Eu amo o jornalismo. Não tenho a pretensão de salvar o mundo, mas, sem demagogia, fazê-lo um lugar melhor sim. Sei que, no mundo de hoje, meu trabalho tem uma função "sócio-comercial", e não me revolto com isso. Me deixem fazer o meu trabalho, e está tudo certo. Eu sei que eu posso.
Sou jornalista por que ser jornalista, para mim, é ser... humano.
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