1.4.07

A-ha! U-hu! A Amazônia é nossa!



Para quem não viu: Na última terça-feira, o senador Álvaro Dias fez um discurso no plenário do Senado denunciando a empresa Arkhos Biotech que, segundo notícia da Agência Amazônia, defende a privatização da Amazônia. Tudo bem, tudo bom... não fosse um detalhe: a tal empresa não existe. Quer dizer, o site existe, e tem tudo: histórico, produtos, sede, vídeos. Tudo lá, tudo falso. Trata-se de uma campanha publicitária do Guaraná Antarctica.

Nobríssima a atitude do nosso louvável senador. Não é função dele checar cada informação que lhe chega sabe Deus como. Em se tratando então de uma agência de notícias especializada, corretíssimo o registro.

A falha, jornalisticamente falando, é da Agência Amazônia. A pessoa que foi na onda da publicidade não conferiu nada, acreditou na primeira coisa que viu na frente, possivelmente, o site da Arkhos. Se tiver sido um jornalista, pior ainda, pois não checou a informação, tendo o dever de saber que nem tudo na internet é confiável.

Agora estão esperneando. A campanha feriu a soberania nacional. Defendeu uma idéia contrária à constituição cometendo um crime presente no código penal. Pera lá. Se o crime está previsto no código penal, tudo bem, tem que pagar. Mas com o tanto que o "crime" não seja o "ferir a Constituição", ok?

A campanha não tem a mínima intenção de privatizar a Amazônia de verdade, e não é algo que alguém vá olhar e dizer.. "boa idéia... vou ali comprar 30%!". Quem defende isso, defendia antes.. Ao contrário, talvez esse rebuliço todo já seja o que a campanha esperava. Tá todo mundo falando no Guaraná Antarctica.

"Ah mas ela dá idéia". Sim, e como a Amazônia é só uma folha de papel, quem pegar, pegou, né? Ah, pára.. Quem por acaso acredita que a Amazônia vai ser privatizada, tem que se lembrar que está no século XXI, e que isso não se resolve com navios piratas e canhões. E os que acham que a Amazônia já está sendo tomada, ou já está na mão de sei lá quem, outra novidade: não é o fato de haver ou não uma propaganda brincando com isso que vai mudar alguma coisa.

O fato é o seguinte. Essa não é, nem beeeeeeeeeeeem de longe, a primeira vez que um boato se torna uma verdade "incontestável" e gera problemas. Para ficar no, talvez, maior clássico da história, eu lembro o caso "Guerra dos Mundos", em que Orson Wells fez uma encenação do livro de H. G. Wells.

É claro que, diferente do fato citado, desta vez a imprensa e o governo estão envolvidos. Mas eu acho isso mais importante como demonstração do poder que a internet pode alcançar do que propriamente uma discussão ético-legal. A TV, o rádio, os jornais e até os formadores de opinião tem seus "perigos" pois podem conduzir "verdades". Mas o que dizer de um mundo cibernético onde nem tudo é o que parece?

Pode-se até debater a questão ética da Agência que publicou a notícia sem verificar a autenticidade. Se for jornalista, poderia até ser responsabilizado.

Enfim, é como o caso dos direitos autorais de músicas na web. O mundo precisa entender que a internet não é "só mais uma coisa". Ela exige e vai continuar exigindo mudanças profundas de conceitos que hoje "regem" o mundo. Conceitos aplicáveis a outros setores/veículos não se aplicam à rede mundial.

Não à privatização/internacionalização da Amazônia! Não ao aquecimento global! Não ao desvirtuamento das questões fundamentais, que incluem meio-ambiente, educação, segurança e emprego! Não à discussões vazias sobre coisas, no fundo, sem a "relevância" que se tenta dar.

Ah sim... vem aí a propaganda do Guaraná Antarctica com o senador Álvaro Dias!

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