5.6.05

Penso, logo desisto...



"Era uma vez uma menininha. Ela se chamava Narizinho e vivia com a avó num sítio. Lá também viviam Pedrinho o Visconde de Sabugosa Tia Anastácia e Emília a boneca de pano. Apesar dos perigos que enfrentavam quase diariamente todos eram muito mas muito felizes."

Escrever é um exercício. Todos já leram isto em algum lugar, e eu também já disse isso. E como todo o tipo de exercício, também tem suas peculiaridades. Para mim, uma das coisas mais trabalhosas em escrever é conhecer o uso da vírgula. Em 90% dos casos, é fácil definir onde colocá-la. Aqui mesmo, neste parágrafo, ela já apareceu 5 vezes. Contudo, (6.. ) não me admiraria se alguém viesse me dizer que alguma delas está mal colocada. E, pior do que isto: escrevendo eu volta-e-meia me deparo com os outros 10%, onde os erros são fatais.

Eu não me preocupo tanto pois, como outros escritores já disseram "o indispensável é se fazer entender, e se o texto puder ser perfeito, melhor". É isto aí. Eu até não me importo quando sou corrigido, pois sei que a linguagem escrita é mais formal do que a falada, e que é importante saber escrever bem. Muitas vezes, fui mal interpretado por não ter sabido expor um pensamento. Talvez usando as palavras certas, mas colocando-as de forma equivocada.

A vírgula é, antes de tudo, um importante auxílio que temos para escrever frases mais extensas ou enumerações, por exemplo. Mas a vírgula também serve para pensarmos. Não seria melhor, algumas vezes, ao invés de botarmos um ponto final em alguma coisa, apenas deixarmos ali uma vírgula? Isto não se aplica a qualquer caso, é claro, mas um segundo pensamento sempre é bom.

A vida, no fundo, é feita de vírgulas. A cada escolha que precisamos fazer, temos que parar para pensar. "Contrato mais um ou espero mais um tempo?"; "Primeiro eu faço aquela ligação ou termino o que estou fazendo?"; "Comida japonesa ou churrasco?"; "Cinema ou barzinho?". São intermináveis exemplos, dos mais banais, aos mais importantes. Algumas dessas vírgulas podem definir momentos cruciais e até mesmo toda uma vida.

Às vezes estamos "super ocupados" e acabamos perdendo o contato com os amigos. Passado algum tempo, sentimos falta daquela convivência, e nos perguntamos "por que mesmo nos afastamos?". Fácil resposta.. por que não usamos a vírgula! Desculpem, mas eu não acredito quando alguém diz que está "sem tempo para nada". A não ser que trabalhe de dia e seja guarda noturno madrugadas a dentro, tempo para "dar um alô" sempre se tem. Ainda mais na era da informática, dos e-mails e dos celulares...

Vírgulas também podem ser momentos de prazer. Todos temos nosso problemas, trabalhos, ocupações e relacionamentos que não nos deixam descansar. Mas aí, chega o final de semana, e pronto. Quando possível, largamos tudo e saímos para fazer nada. Exatamente, fazer nada. Chamamos alguns amigos e vamos a algum lugar falar sobre nada, apenas "curtir". E esses são, muitas vezes, os melhores momentos da nossa semana...

Mas, também, não, dá, para, exagerar, e, querer, colocar, vírgula, em, todos, os, momentos, né? Na vida como na escrita, saber usar a vírgula é fundamental!
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