Se ela dança, eu danço...
Essa foi uma cena lamentável. A deputada Angela Guadagnin (PT-SP) literalmente dançou no plenário da Câmara dos Deputados quando foi anunciada a absolvição do seu companheiro de partido João Magno (MG). A referida parlamentar ainda pediu desculpas "se ofendeu alguém". Ofendeu sim, a minha inteligência.
Na mais branda das hipóteses, ela comemorou a vitória de um amigo pessoal, não importando o que ele tenha feito, mas apenas por serem amigos. Mas espere aí, quem está ali não é a Angela Guadagnin, mas os eleitores que a elegeram, e todos nós que, representativamente, somos cada um dos "513 picaretas". Não há espaço, na Câmara, para demonstrações de afeto pessoal. Ou ela está dizendo que seus eleitores também estão felizes? Aposto que não... ao menos, não todos...
Problemas da representatividade personalista brasileira. Como temos partidos fracos, as pessoas votam em pessoas, que ao chegar lá se julgam no direito de cantar e dançar. Acontece que elas não tem este direito. Se quiserem, comemorem na intimidade, visitem-se, mas não façam isso nas nossas cabeças.
Quem também dançou foi o ex-ministro Antonio Palocci. Numa rápida agonia, o ex-todo-poderoso desabou como Golias, graças ao David "Nildo". Não, o caseiro não é herói. O caseiro é, no máximo, um sopro do vento que derrubou o castelo de cartas do Ministério da Fazenda e, se o povo brasileiro tiver um mínimo de vergonha na cara, decretou o fim da reeleição do presidente Lula.
Eu votei no Lula. Eu apoiei o Lula. Depois de muito tempo criticando o PT, eu apostei neste governo pois acreditava que, como disse o então ministro da educação Cristovam Buarque numa palestra que eu assisti em Porto Alegre ainda em 2003, o Brasil ia fazer "uma longa curva à esquerda, e não simplesmente dobrar". Pois bem, lá se vão 3 anos e nada da tal curva aparecer...
Ao contrário do que os últimos defensores do Lula acham, eu não espero que o próximo presidente não seja corrupto. É esmagadora a possibilidade de ele ser tão ou mais corrupto do que o "Lulinha paz e amor". Entretanto, CPIs, o Ministério Público e a Polícia Federal estão aí para isso.. estão aí inclusive, para serem freados por habeas-corpus concedidos pelo Supremo Tribunal Federal.
O que diferencia o Lula dos demais não é a ética, como muitos por muito tempo acreditaram e alguns ainda assim insistem em enxergar. O que o diferencia é que os outros não prometem que vão salvar o mundo do mal, não fazem depredações quando são contrariados, e não fazem de conta que não sabem de nada do que acontece a sua volta.
Somos todos brasileiros, e todos, sem exceção, usamos o "jeitinho" uma que outra vez. Todos recriminamos isto, mas todos fazemos. Sem demagogia.
Eu acredito que a consciência política do brasileiro está melhor hoje do que estava há 14 anos, quando o Collor caiu. Só que eu também não acho que o povo brasileiro aprendeu a votar, isso leva tempo...
Uma das coisas que as pessoas precisam se dar conta é da força da mobilização popular. Severino Cavalcanti e a remuneração do recesso parlamentar são dois pequenos exemplos de que, minimamente organizada, sociedade e mídia podem impedir que esta babel se desenvolva e, quem sabe até, combatê-la. Em nenhum dos dois casos houve grandes mobilizações, mas em ambos houve uma certa movimentação, e o resultado surpreendeu por não ser favorável aos "senhores deputados".
A própria verticalização é outro exemplo. A discussão de uma lei dessas, por si só, é absurda. Se o partido X defende as idéias A no âmbito federal, como (ou onde) poderia ser possível que numa fração do país (estado) este partido combatesse estas mesmas idéias? O argumento a favor do fim desta lei é a de que "nordeste e sul não necessariamente pensam igual". Ótimo! Então façam partidos diferentes! Ou estás me dizendo que querem o poder pelo poder? (Não Fábio... é impressão tua...). Só no Brasil que o óbvio (verticalização) pode ser debatido. Somos praticamente os sofistas atenienses!!
A dança da ilustre deputada foi quebra de decoro sim! Foi desrespeitoso com o povo, pois colocou a sua relação pessoal acima da relação parlamentar. E se o tal deputado for condenado pela justiça depois? A própria deputada, até onde se sabe, tem alguns processos nas costas do tempo que era prefeita de São José dos Campos. Como poderia ela algum dia defender a ética, e ainda mais agora?
"Não à reeleição em todos os poderes elegíveis". Um adesivo que eu tive há muitos anos dizia isso, e eu não o entendia (pois não sabia o que era reeleição, e nem o que queria dizer "elegíveis"). Pois agora, é isto que eu vou defender. Não também ao voto branco ou nulo, pois voto inválido é voto pelo vencedor!
Não à reeleição, para que nossos nobres deputados pelo menos não possam dançar outra vez sobre nossas cabeças!!
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