O fim de uma era na Fórmula 1
Justiça seja feita. Numa das corridas mais emocionantes dos últimos tempos, e numa das recuperações mais incríveis que a Fórmula 1 já testemunhou, o GP do Brasil deste ano, disputado no último domingo, em Interlagos, foi um grande final para uma carreira fantástica do polêmico Michael Schumacher.
Até a sensacional e merecidíssima vitória do tupiniquim Felipe Massa serve como parâmetro para, enfim, reconhecer o grande piloto que o seu companheiro e heptacampeão alemão foi. Nos vários anos em que o Rubens Barrichello foi companheiro de Schumacher na Ferrari, nunca ele (Barrichello) teve uma vitória nas mãos do início ao fim, se não naquele GP da Áustria em que, vergonhosamente, o piloto alemão ultrapassou o ex-companheiro a metros da linha de chegada. O fato: mesmo lá, "Rubinho", num ótimo final de semana e correndo mais, não passava de uma sobra do alemão. Massa é profissional, obviamente sabe que Schumacher disputava o campeonato e tinha a preferência, mas nunca deixou de buscar o seu melhor. A ocasão surgiu quando só a vitória interessava a um Schumacher de pneu furado. Ele aproveitou. Barrichello certamente teve suas "ocasiões".. mas aproveitou quantas?
O que eu quero dizer é que, se Schumacher não foi sempre um adversário leal, ele também não merece ser retirado da galeria dos grandes campeões. Mesmo se considerarmos que, 3 ou 4 títulos dele foram conquistados na super-Ferrari sem adversários, sobram ainda pelo menos outros 3 títulos que o deixam, no mínimo, no nível de Ayrton Senna e Nelson Piquet.
Incontáveis GPs para lembrar. As vitórias com a Benneton (quando seu "diretor de equipe" era Flavio Briatore, hoje chefe da adversária Renault), a fatídica corrida que vitimou Ayrton Senna (e impediu que o mundo visse, afinal, um campeonato disputado pelos dois). Contudo, a obstinação do "sapateiro" neste domingo mostra o grande piloto que ele foi, ou ainda, que ele é.
Com problemas de motor, largou em décimo, com o companheiro ferrarista Massa na pole e o adversário Fernando Alonso em quarto. Para ganhar seu oitavo título mundial precisava ganhar e torcer para o espanhol não pontuar. Matematicamente possível, mas improvável.]
Fim da segunda volta, Schumacher é o sexto. Poucas voltas depois, ao tentar ultrapassar o italiano Giancarlo Fisichella na entrada do S do Senna, o bico da Renault inacreditávelmente fura o pneu do alemão. O que muitos fariam? Encosta, e fim de prova.
Não Michael Schumacher. Talvez por ser sua última corrida, talvez pois o carro estava num domingo maravilhoso, mas o alemão voltou para a pista. Naquele momento, poucos metros atrás dele estava Felipe Massa... prestes a lhe dar uma volta. Cinqüenta voltas e uma dezena de ultrapassagens depois, "Schummy" termina a corrida na quarta posição. No domingo em que a Espanha conquistou seu bicampeonato e o Brasil voltou a vencer em casa, a Alemanha viu o maior piloto de sua história fazer uma corrida perfeita, digna de sua brilhante carreira.
Eu mesmo, por muito tempo, fui "contra" o alemão. Torci por Damon Hill, Jacques Villeneuve, Mika Hakkinen e, é claro, pelo próprio Fernando Alonso nos últimos anos, mas não posso, agora, deixar de admitir que Schumacher é um dos grandes.. dos maiores!!
Se é ou não maior ou mais importante que Ayrton Senna. Impossível dizer, e mais difícil ainda, imparcialmente. Senna ganhou 3 títulos em 10 anos, contra o tetracampeão Alain Prost e o "leão" Nigel Mansell. Para a história, Schumacher nunca enfrentou, realmente, um grande campeão. Mas foram 7 títulos em 16 anos. É o maior vencedor da história, quer queiram, quer não.
Alonso, Schumacher, e antes Prost, Piquet, e, é claro, Senna. Estes cinco pilotos certamente dominaram os últimos 26 anos da Fórmula 1 (1981-2006), conquistando, simplesmente, 19 títulos. Os 3 últimos disputaram entre si, o segundo reinou quase sozinho, até a chegada do primeiro.
E isso me lembra que a Fórmula 1 entra em um novo momento. Agora, mais do que sem Michael Schumacher, apenas um campeão permanece. Fernando Alonso. Outros grandes pilotos estão aí: Raikkonen, o próprio Massa, o jovem Kubica e o inglês Jenson Button são alguns dos fortes concorrentes ao título 2007.
Talvez este GP tenha sido o último ato de uma era de grandes campeões. A Fórmula 1 segue, mas, assim como Senna, Prost e muitos outros seguem sendo louvados, jamais esqueceremos de Michael Schumacher.
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