16.2.05

Longe é um lugar que não existe...



Semana passada eu fui ao aeroporto. Quando a pessoa que fui acompanhar até lá embarcou, eu comecei, despretensiosamente, a olhar em volta.

Eu vi pessoas chorando, por causa da despedida. Uma senhora abraçava uma adolescente como se nunca mais fosse vê-la. Ao redor, cinco amigas da passageira do próximo vôo choravam discretamente. Não sei para onde ela estava indo, nem por quanto tempo.

Nas cadeiras, perto dos balcões de check-in, muita gente cansada. Algumas pessoas gritavam, outras estavam pensativas olhando para o nada. "Outras duras despedidas", eu pensei. Não falei com ninguém. Mesmo que a minha "missão" no aeroporto aquele dia estivesse cumprida, eu resolvi continuar reparando... Peguei o elevador e desci até o portão de desembarque.

Três pessoas seguravam placas. Uma informava o nome da pessoa, e duas o nome da empresa, ou algo assim. Li novamente o nome do passageiro que era esperado, e me perguntei: "Quem será? De onde ele vem?". Eu mesmo me estranhei tendo aquele tipo de curiosidade, afinal, fosse quem fosse "ele" é apenas mais um. Assim como eu, seja quem eu for, para toda essa gente a minha volta, sou apenas "mais um". Somos todos praticamente invisíveis...

Quando me aproximei da porta por onde os passageiros saem depois de pegar suas bagagens, reparei em um rapaz, mais ou menos da minha idade, que esperava por alguém. Ele olhava nervosamente para o relógio, numa mistura de apreensão e ansiedade. Pensei em falar com ele, mas, falar o quê? Decidi ficar e esperar para ver o que ia acontecer.

Um pouco mais atrás, o que parecia ser uma família estava esperando alguém. Não consegui definir se era um adulto ou um adolescente, mas alguém estava prestes a, me parece, ser muito bem recepcionado.

Me lembrei da minha infância, quando ir ao aeroporto era um acontecimento. A gente ia até lá só para ver os aviões subindo e descendo. Contudo, não íamos buscar ou deixar ninguém, estávamos lá como poderíamos estar num parque, ou numa lanchonete.

Comecei a pensar em como a vida é engraçada. O aeroporto é, reconhecidamente, um lugar de grandes emoções. Tanto para quem parte, como para quem fica, ou para quem chega, como para quem está, aquele momento é especial. Um último beijo, uma última palavra, um primeiro e fraterno abraço.

Subi até o terceiro andar, de onde se pode ver os aviões partindo. Não tinha muita gente. Caminhando por ali, entretanto, a emoção daquelas pessoas era marcante. Pais e mães chorando, crianças de colo olhando curiosas sem ao menos se dar conta do que estava acontecendo, e muitos comentários do tipo: "O dela é aquele ali...", na esperança de, quem sabe, não ter perdido a partida de alguém que nos é tão caro.

Quantas histórias acontecem simultâneamente em um aeroporto. Quantas famílias se separam e se reúnem, quantos amigos se reencontram ou se preparam para encarar juntos uma importante viagem. Quantas expectativas, quantas surpresas, quantas decepções... A todo o momento, pessoas choram de alegria e de tristeza, sonhos são realizados e destruídos, vidas são transformadas quase sem se notar.

Resolvi ir embora. Na fila para pagar o estacionamento, encontrei o cara apreensivo de antes. Ele agora estava acompanhado de uma bonita garota que, pelo jeito, está tão feliz quanto ele.

Olhei para ele, ele olhou de volta e me cumprimentou. Respondi ao cumprimento e, discretamente, sorri. Ele não faz idéia de que estava sendo observado, e nem notou todas as histórias que aconteceram enquanto ele esperava o fim da sua agonia.

Ao sair do aeroporto, já dentro do carro, me lembrei de uma frase que eu li certa vez, e que me pareceu muito correta naquele momento: "A vida é o que acontece enquanto pensamos em outras coisas...."

Pura verdade...
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