Em busca de si mesmo... - em 4 atos
Peço licença para contar uma história...
Era uma vez, um adolescente. Inseguro, quase tímido. Ele tinha amigos, mas poucos. O último ano havia sido o mais difícil da sua vida, mas ele sabia que o pior ainda estava por vir. Tinha aquela arrogância comum aos que, como ele, terminam o segundo grau e se preparam para caminhada universitária. Passou pela cabeça dele "dar um tempo" antes de fazer faculdade e dar um rumo à sua vida, mas acabou passando direto no vestibular. Não que ele fosse gênio, o exame é que não exigia quase nada.
Ato I - Um ótimo começo (1996)
Ainda que o pai dele não acreditasse, ele tinha passado. Faixa na janela: "Parabéns! Daniel - Informática/Ulbra 1996". Na verdade, não era bem o que ele queria fazer da vida, mas nem ele mesmo tinha certeza disso nesta época. O importante era a conquista, e o novo desafio.
Profissionalmente, um ano tranqüilo. Foi nesta época que começou a nascer uma nova personalidade. Sua facilidade para aprender lhe dava segurança, e isto ficaria cada vez mais claro nos anos seguintes...
Pessoalmente, o ano foi muito bom. Até hoje este ano é marcadamente um dos melhores da sua vida. Além de ter conquistado uma nova grande amiga , outra amizade dos tempos do colégio se fortaleceu bastante, e seria perpetuada nos anos seguintes. No segundo semestre ele conheceria outra pessoa muito importante, ainda que de uma forma "virtual" no início. Em setembro ele participaria de um retiro de jovens, onde também aprenderia muito e conquistaria amigos importantes.
Para fechar, 15 de dezembro. Grêmio Bi-campeão Brasileiro. A vida acadêmica estava prometendo muito!!
Ato II - Perto do Inferno (1997)
No segundo ano de faculdade, as lembranças de colégio já não eram mais tão recentes, e ele começou a sentir que não era Informática o que ele queria. Contudo, como não tinha ainda certeza sobre o que queria se não fosse informática, seguiu em frente.
O primeiro semestre foi de grandes dificuldades e, pela primeira vez, ele foi reprovado em uma disciplina. Mal sabia ele o que viria em seguida...
Passadas as férias de inverno, sua vida acadêmica entraria em uma crise que só seria definitivamente vencida anos depois. Pessoalmente, problemas e algumas alegrias.
Foi naquele semestre que se formou, meio que por acaso, a "Gang do Algodão Doce". Era um grupo de 7 amigos que conviveram intensamente durante alguns meses e, sem dúvida, marcaram a sua vida. Na família, um susto. Seu pai sofre um acidente longe de casa. Sua mãe decide acompanhá-lo na recuperação. Com a irmã morando fora, ele fica sozinho em casa. Na época, esta situação era sinônimo de descompromisso com a faculdade que não o "completava"...
Em agosto ele voltou para a faculdade com o objetivo claro de passar na disciplina que ele teria que repetir. Conseguiu, mas também, só nela. Por razões que incluem a sua situação em casa, entraram neste semestre mais 4 reprovações para a conta.
Ato III - O Fênix e a última chance (1998)
O verão de 1998 foi muito difícil. Ele estava avisado de que se fosse reprovado mais uma única vez, perderia o "paitrocínio" da faculdade.
Sem problemas. Se esforçou, e passou em todas as disciplinas nos dois semestres. O que deveria ser um comportamento natural se transformava em um ato de heroísmo.
Em junho, a primeira viagem para São Paulo. Mais alguns amigos e muitas histórias. Em outubro, o primeiro e mais curto namoro, que teria desdobramentos decisivos no ano seguinte.
Ele fechava o ano decidido a se formar na informática, pois tinha encontrado coisas que lhe agradavam na área. Por um movimento dos colegas junto à coordenação do curso, se tornara Presidente do Centro Acadêmico, e se preparava para iniciar um curso técnico reconhecido por uma das grandes multinacionais da área de tecnologia.
Conversando com um amigo, comentou: "Se a Informática não me "pegar" agora, não me pega nunca mais...."
Ato IV - Tudo ou nada (1999)
Ele não imaginava o quanto estava certo quando fez aquele comentário...
Apesar de estar entrando no seu 7º semestre de faculdade, no currículo ainda estava por fechar o 4º. Ele não tinha pressa em se formar, e acreditava que, depois de um ano de sucessos, a vida profissional poderia começar a andar "sozinha". Era a hora de cuidar da vida pessoal...
Ele voltou a ficar com a problemática namorada do ano anterior. Não durou. Deu tempo, contudo, de ele desistir do curso técnico e largar o C.A. Tempos depois ele começou a se aproximar, tanto fisica quanto afetivamente, de outra garota. Antes que ele pudesse imaginar, se tornaram muito amigos, e ele descobriu que a recíproca se tornara verdadeira. Ficaram.
Uma semana depois, ela voltou atrás. Queria o amigo de volta. Nunca mais foram amigos.
Epílogo - Vagabundo confesso... (1999/2000)
Aquela foi uma noite difícil. Junho. Ele resolveu tentar de novo e foi conversar com ela. Ela manteve a posição e disse que "não saberia perder o amigo se eles terminassem o namoro". Perguntada, ela confirmou. Ele "perdeu" por que era legal demais...
Ele nunca pretendera ser "legal demais". Para ele, ser "legal" já estava de bom tamanho.
Voltou para casa. Olhando para trás ele viu, claro como nunca, que estava no lugar errado. Ele não queria fazer Informática, nunca quis. Tanto que seus amigos eram do direito, da psicologia... das "Humanas", não das "Exatas" e nunca do seu próprio curso. Agora ele entendia que as várias vezes em que foi reprovado e a displicência com a qual ele sempre tratara a faculdade tinham muito de um "sincero" desinteresse. Era um não querer, de verdade, fazer aquilo. Neste momento ele via que de uma certa forma ele conseguira o tal "tempo" que queria entre o fim da vida escolar e o início da vida universitária.
Chegou em casa e abriu o jogo. Depois de bastante tempo, tinha sido reprovado em mais 2 disciplinas. À ameaça de que seu pai fosse tirar ele da faculdade, respondeu com um simples e sonoro:
"Finalmente!!".
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