21.2.05

Um garoto bonito...



"Eu nunca precisei trabalhar na vida". Eu gostaria de, quando for mais velho, olhar para trás e poder dizer que nunca trabalhei na vida. Não, não é que eu não goste de trabalhar, ou que eu tenha feito voto de pobreza nem nada. É que eu gostaria de descobrir, depois de muito tempo, que tudo o que eu fiz me deu um prazer tamanho que eu nunca realmente precisei fazer nada me sentindo obrigado, entendem?

"O sonho não acabou". Graças a Deus, eu nunca precisei trabalhar com nada que me desse repúdio ou que eu me sentisse diminuído.. É claro que eu tive momentos difíceis na minha ainda curta vida profissional, mas num panorama geral eu não tenho o que reclamar. Continuo com a esperança de um dia poder dizer que fui feliz "sem esforço".

Eu realmente tenho este sonho, e realmente gostaria de, no futuro, poder dizer isto. O único detalhe é que nenhuma destas duas frases são minhas. Elas são de um dos maiores artistas do século XX, o grande John Winston Lennon. Assim como outra que eu recentemente citei aqui no Impressão Digital, e que eu também acredito muito: "A vida é o que acontece enquanto pensamos em outras coisas".

Lennon foi um homem fantástico. De líder dos "Quarry Men", na adolescência até a prematura morte em Nova York foram 20 anos marcando a história com o seu talento, seus pensamentos e até mesmo com a sua própria biografia. Quem conhece os Beatles a fundo sabe que, desde o início (quando Paul entrou no "Quarry", começando a formar o grupo que se tornaria o mais famoso do mundo) John Lennon já demonstrava traços da personalidade que determinariam o rumo de toda a sua vida. Na música, a sua auto-confiança poderia, muitas vezes ser confundida com arrogância, mas não passava de consciência sobre o seu próprio potencial. É claro que ele cometeu exageros, mas um dos maiores e mais lembrados destes, na verdade, não passa de um mal-entendido.

O que ele disse foi: "Os Beatles são mais populares que Jesus Cristo". E não são? Ele não está dizendo mais importante, ou maiores, apenas mais populares. Se levarmos em conta a geração ´60 então a coisa fica ainda mais clara. No Oriente, por exemplo, ninguém conhece Jesus, e todos conhecem os Beatles. Acontece que a própria geração ´60 foi quem não compreendeu o que ele estava dizendo, e ele foi obrigado a se desculpar.

Depois do fim dos Beatles, Lennon continuou sua carreira solo com uma série de composições que marcaram o século. "Give Peace a Chance", "Stand By Me" e a imortal "Imagine" são alguns dos maiores sucessos da carreira solo deste pacifista que morreu nas mãos de um fã inconformado.

Lennon merece todas as homenagens. A sua morte, inclusive, serve para torná-lo ainda mais mítico, mas não deforma, nem positivamente, o seu valor. John Ono Lennon (ele mudou seu próprio nome quando casou com a japonesa Yoko Ono) trabalhou todos os dias da sua vida desde o seu primeiro encontro com Paul McCartney, no subúrbio de Liverpool. A rotina beatle era, muitas vezes, ingrata. Mesmo assim, o amor dele pelo que fazia era tanto que um dia ele disse que o que lhe deixava mais feliz é que ele nunca tinha precisado trabalhar na vida.

Há bastante tempo eu queria prestar esta homenagem a Lennon. Contudo, eu resolvi fazê-la agora pois descobri que uma frase que eu usei em outro texto, na verdade é uma tradução de dois versos da música "Beautiful Boy" (A vida é o que acontece enquanto pensamos em outras coisas / Life is what happens while you´re busy making other plans), do próprio.

Naquele texto eu disse que a frase não era minha, mas que, como acontece com muitas outras frases famosas em determinadas situações, ela cabia no momento que eu estava vivendo. De certa forma, já naquele instante eu prestava uma homenagem a ele, pela sensibilidade de expressar o que eu estava sentindo. Isto é algo muito bom de se fazer, e muito importante também. É até mesmo uma questão de respeito!
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