8.7.05

Viva o febeapá!

Como bem lembrou o saudoso Stanislaw Ponte Preta, no seu Febeapá (Festival de besteiras que assola o país): "O mal do Brasil é ter sido descoberto por estrangeiros".

São pérolas como estas, proferidas por autoridades e personalidades do nosso país que fazem com que sejamos, ao redor do mundo, reconhecidos como um povo bem humorado. Também, como levar a sério um país em que um ministro de governo diz, em alto e bom som, que a sua cachorrinha "é um ser humano como qualquer outro"? (Magri, governo Collor). Ou talvez o país do terceiro mundo onde seu presidente, ao responder sobre o que faria se seu pai tivesse que viver com um salário mínimo, respondesse: "Dava um tiro na boca" (João Baptista Figueiredo, 1980). Ainda, onde o presidente do maior partido de esquerda diz que assinou um documento sem ler, sendo este "documento", um simples empréstimo da ordem de R$ 2.400.000,00, cujo avalista era um "publicitário" "desconhecido" pelo tal político?



Será possível que somos tão idiotas assim? Pior do que isto. As versões mudam como se ninguém tivesse ouvido o que se falou antes. Eu entendo que é complicado ter sido descoberto em algo nitidamente ilegal, mas vamos com calma, né? Primeiro de abril é só uma vez por ano...

A situação está extrapolando a simples inversão de discursos. Agora, os que não tem nada a ver com a história, e querem apenas descobrir a verdade, fazem perguntas objetivas (não sem antes discursar, é claro), enquanto os envolvidos tentam desqualificar a investigação e suas testemunhas das maneiras mais, com o perdão do trocadilho, incríveis.

Visualizem. A secretária do tal "publicitário" está prestando depoimento. Demonstra, por fatos, que algumas das suas afirmações anteriores já foram comprovadas por investigações da Polícia Federal e da própria Comissão que a entrevistava naquele momento. Tudo correndo muito bem, algumas contradições com o que outros afirmaram, mas dentro do esperado. Não menos que de repente uma ilustre senadora catarinense do partido do governo começa o seu interrogatório. Entre outros requerimentos, a mesma solicita que se investigue o nome do amigo de colégio da depoente que arrumou o computador dela, nome da empresa de RH que a levou a trabalhar na empresa de Marcos Valério, e pede que se verifique a coincidência do sobrenome do marido da inquirida com um vereador do PTB no interior de não-sei-aonde (terra da depoente, mas de qualquer forma, supondo sei-lá-o-que).

Podem ser úteis? Talvez quem sabe entretanto porém contudo sim. Mas até lá, perderam-se 15 preciosos minutos de questionamento, e outros tantos de investigação (para executar os tais requerimentos).

Outros parlamentares deixaram aflorar o seu lado "brasileiro" e bem humorado para fazer as indagações. O gaúcho Pompeo de Matos (PDT), disse que ia "permanecer sentado e se agarrar na mesa" antes de anunciar ter descoberto que o valor movimentado pelas empresa do envolvido entre 2001 e 2004 chegava a 1 bilhão de reais.

Um bilhão de reais, em talvez 5 anos? Sendo 20 milhões tirados em dinheiro vivo, e em malotes de centenas de milhares. Primeiro para comprar gado, depois pagar fornecedores, e por último (até agora) re-depositar? Sr. Marcos Valério, chega mais.. tu acha que eu sou quem? O Bozo?

Aí nasce outra pergunta. Como um pseudo-publicitário movimentaria 1 bilhão de reais em 5 anos? Consideremos ainda: o seu patrimônio, até o início deste período era milhares de vezes menor do que isto, e mesmo hoje, este patrimônio não chega nem perto da metade deste valor. Outra: ele nem mesmo é sócio de algumas das empresas, senão apenas marido da sócia. Ou seja, praticamente nada disto está, legalmente, em seu nome. Por que não estão em seu nome, se está claro que é ele quem exerce a chefia das tais empresas? Em última análise, quem sabe, ele poderia até não ter que responder sobre estas movimentações.

Está claro que, na verdade, o empresário é apenas o "laranja" - outro termo inteligentemente explicado pelo deputado gaúcho - de um esquema de corrupção muito maior do que ele próprio pode imaginar. Se ele tem culpa? Tem, claro que tem, e muita. Mas ele não é um golfinho, muito menos um tubarão nessa história. Talvez um linguado, ou um peixe-palhaço perdido no caminho para a escola....

Bem humorado? Sim, também somos bem humorados, senhores estrangeiros. Mas o nosso maior problema é que, por trás desta cínica alegria, existe um povo que não se leva a sério. Enquanto for assim, continuarmos vivendo o Febeapá...
1942

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