9.2.06

Roleta russa

A gente tem a cínica e arrogante mania de viver como se fosse durar para sempre. É claro que isto é, na verdade, um grande paradoxo pois todos temos uma única certeza: vamos morrer. Ainda assim, e talvez para fingir que não, vivemos nossa vidinha tranquilamente, e fazemos planos para daqui 5, 10 anos, como se fosse só uma questão de tempo.

Na teoria é. Basta que o ponteiro maior do nosso relógio dê umas 60 mil voltas e teremos vivido mais quase uma década. Nossos planos estarão 10 anos a frente, porque certamente estaremos vivos até lá, não é?

Uma frase famosa, de certo humor negro, diz: "Viva cada dia como se fosse o último, pois um dia você acerta". E é isso mesmo que acontece. A gente fica pensando em morrer de velho, ou esquece que vai morrer, quando na verdade a gente "perde" oportunidades de morrer praticamente a cada segundo..

Não, não estou querendo dar lição de moral nem dizer "arrependei-vos que o apocalipse chegou". O meu raciocínio é mais generalista. Acredito que todos lêem jornais, assistem telejornais e conversam com outras pessoas. Pois é, todos os dias acontecem desgraças. Gente morrendo atropelada, bala perdida, discussão em casa, mãe "perdendo" bebês por aí. Todos os dias centenas de vidas são modificadas para sempre, traumaticamente. Eu sempre penso nas pessoas envolvidas nesses "casos de polícia" mundo afora. Muitas delas, se não morrem literalmente, perdem grande parte da vida por um milissegundo em que se fez ou se estava no lugar errado.

A gente age como se essas coisas fossem como prêmios da loteria. A gente nunca ganhou, então não é para nós. São fatos que só ocorrem lá, longe da vida real. Não meus amigos, lá também é a vida real.

Eu pensei na analogia da roleta russa pois é como se estivéssmos sempre brincando disso. Para quem não sabe, o "jogo" consiste em colocar apenas bala no tambor de um revólver, fechar e girar o tambor, e depois atirar contra a própria cabeça. Se sobreviver, gira o tambor e passa para o próximo.

O que ocorre é que, no mundo "real", a última bala é sempre recolocada. E nem sempre a vida avisa que está brincando...

Na verdade, toda essa conversa é para ser uma mensagem positiva. É para nós, que temos a sorte de não estar nas páginas policiais, valorizarmos mais os pequenos momentos, o simples fato de estarmos vivos.

Uma vez eu vi um filme chamado "Premonição" (o primeiro). Lá pelas tantas, o protagonista tá no meio do nada, sendo que o carro dele tinha parado em cima dos trilhos e levado por um trem, e o amigo dele estava de pé, ao seu lado, sem a cabeça. Eu lembro que naquele momento eu pensei: "E eu que achava que tinha problema". Tipo, 5 segundos e a vida do cara "acabou". Seis segundos antes e nada tinha acontecido nem "tinha como acontecer".

Viva a vida! Viva a sorte de eu ter amigos, família, profissão, trabalho, casa e saúde!

E viva também eu ter livre arbítrio, para poder filosofar de vez em quando...
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