30.11.04

Merece replay...



Uma das experiências mais valiosas da minha ainda curta carreira profissional foram os 50 dias em que eu fui Editor-chefe de um jornal diário, de Porto Alegre. O "replay" tinha 16 páginas, sendo 6 coloridas. Era só sobre esportes. Cobria a dupla Gre-Nal, esporte geral, futebol brasileiro e internacional. Tinha colunistas diários, e uma ótima equipe. No começo éramos 5, mas, no seu prematuro final, já éramos quase 20.

Foi valioso por que foi um aprendizado incrível. Uma oportunidade de colocar em prática muitos dos conhecimentos adquiridos da faculdade, mas também de comprovar a dureza de outros tantos. A minha responsabilidade era grande, mas eu acreditava (e ainda acredito) que podia assumí-la. Quando decidi largar a estabilidade que possuía no emprego anterior para apostar neste projeto, não foi por gostar de aventura, mas por acreditar no projeto e me sentir capaz de contribuir com o seu crescimento.
Confesso que, nesta "aposta", talvez houvesse um pouco de crença no pote de ouro no fim do arco-íris, mas, quando decidi aceitar o desafio, eu estava consciente disso. Se desse errado, eu "perderia" muito. Mas se desse certo, eu teria começado uma carreira com o pé direito.
O jornal, que chegou a circular durante um mês, deu errado por uma série de razões. Basicamente, por falta de conhecimento sobre o mercado jornalístico por parte do "investidor". Ele não contava com os custos diários de um jornal como impressão, distribuição e transporte (dos repórteres). Também é verdade que lançar o jornal sem publicidade foi outro grande erro, e que este eu até poderia ter visto mas, quando fui chamado, eu acreditava que o projeto estava bem estruturado em todos os seus aspectos, e não apenas no projeto editorial.
Como sempre, chamei alguns amigos para trabalhar lá. Um diagramador, uma fotógrafa e um repórter. Eles também podem dar seus próprios depoimentos sobre a experiência, mas acho que para todos a experiência valeu, e, no início, o jornal parecia ter tudo para dar certo.
Outra coisa muito importante foi o aprendizado que tive na coordenação da equipe. Eu já havia sido "editor" algumas vezes, durante a faculdade, mas agora era pra valer. As nossas e, principalmente, as minhas decisões determinariam o rumo das coisas. Eu procurava sempre fazer o jornal crescer editorialmente, no sentido de ampliar a cobertura (principalmente no que se referia a outros esportes que não o futebol) e no sentido de dar uma "cara" ao veículo, tanto no que se refere ao visual quanto ao editorial. Para isso, eu sempre ouvia e perguntava a opinião dos outros membros da equipe, aceitando críticas e sugestões, mas sugerindo e criticando também.
A equipe era fantástica. Hoje posso dizer que tenho grandes amigos graças ao stress da redação. Apenas uma exceção, mas esta fica para quem conhece...
Eu acredito que Porto Alegre merece e tem condições de possuir um jornal especializado em esportes. Aliás, a idéia era começar na Capital e depois ir "ganhando" o Estado inteiro, tanto na cobertura quanto na distribuição. Chegamos a alcançar alguns municípios da Grande Porto Alegre, mas, também isto foi abruptamente interrompido.
Para alguns, o fim do jornal foi surpreendente. Na verdade, se não fosse uma conversa que tive com um professor da faculdade, durante as semanas em que trabalhei no jornal, a sua "falência" também me surpreenderia. O barco começou a ir a pique poucos dias depois desta conversa, aliás. No final, enquanto alguns se debatiam tentando colar as partes do barco e seguir viagem (apoiando-se em (promessas) bóias furadas), eu nadava em direção à terra firme. O que acabou com o jornal não foi somente falta de dinheiro (ou publicidade). Foi falta de caráter, de palavra e de respeito do "investidor" para com a sua equipe editorial e de fornecedores.
Mesmo com tudo isso, se hoje me convidassem para um projeto deste tipo, eu toparia de novo. É claro que eu conheceria o projeto mais a fundo antes de aceitar, mas a experiência foi muito enriquecedora e, com certeza, valeu a pena.
Uma das seções do jornal se chamava "Merece replay". Era um trocadilho com o nome do mesmo, que tinha o objetivo de relembrar grandes momentos do esporte, acontecido naquele dia ou algum fato histórico. Na edição de hoje é a própria experiência de produzir um jornal diário que merece replay.

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