14.11.04

Ruas? Para onde vamos não precisamos... de ruas...

Acima de tudo, eu sou um apaixonado pela vida. Eu tenho consciência de que hoje, já formado, as minhas possibilidades de sucesso são muitas. Sei também que, por ter terceiro grau e toda uma estrutura sócio-econômica que me possibilitou isto, eu sou um privilegiado. Por isso, sempre procurei fazer a minha parte e, não só para ser merecedor disso tudo ou qualquer coisa assim, mas também por que sei que preciso aproveitar as oportunidades que a vida me dá de fazer o que gosto.

A primeira vez que assisti ao filme "De Volta Para o Futuro" foi numa Tela Quente (Excepcionalmente, não me perguntem de que ano. Sei que foi entre 1986 e 1988). Me lembro que achei bem legal. Uma "viagem", mesmo. Eu não tinha bem a noção de que tipo de filme era aquilo mas, tinha achado coisas engraçadas, além de um "roteiro" (termo que eu não conhecia na época) bem diferente. Eu nunca tinha visto um filme em que o personagem voltava no tempo, encontrava seus pais e, por isso, corria o risco de não nascer. Muito bom!!

Em 1989 um primo meu do nordeste veio aqui em casa, e nós tiramos o filme na locadora. Ele gostou, e lembrou que a segunda parte estava passando no cinema. Me perguntou se eu estava afim de ir e eu, ainda sem ter noção de como me apaixonaria por aquela trilogia, topei. Fomos, e eu gostei muito também. Ao mesmo tempo que o primeiro filme termina em si mesmo (o que não acontece com o segundo, que precisa do terceiro para ser compreendido), esta segunda parte volta a momentos do primeiro, inclusive com personagens correndo o risco de encontrarem a si próprios, 30 anos mais jovens.

No ano seguinte, 1990, eu fui visitar este meu primo. Por coincidência, a terceira parte estava nos cinemas. É claro que fomos assistir. Saímos do cinema debatendo o filme, seu sentido, e o que cada um tinha assimilado. Começava aí uma das paixões da minha vida.

A mensagem básica da trilogia é: "Não existe destino. Faça um bom futuro para você", e é nisso que eu acredito. A vida é o imprevisível resultado de pequenos momentos, e pequenas decisões que tomamos ao longo do tempo. Eu cheguei a fazer meu trabalho de conclusão de curso sobre isso. A maioria das decisões que acabam definindo a nossa vida passam por nós despercebidas. São vários os exemplos disso no primeiro filme, por exemplo, e eu vou tentar explicar um deles.

Logo que o filme começa, George Mcfly (Crispin Glover), pai de jovem Marty Mcfly (Michael J. Fox, protagonista), é um fraco, um derrotado. Um verdadeiro "bobalhão" que, ainda depois de adulto, aceita humilhações e faz trabalhos para um colega do escritório. Quando Marty viaja no tempo, e encontra seu pai adolescente, ele é um típico "nerd". Anti-social, aficcionado por ficção científica, e um tímido escritor de histórias do tipo. Marty chega a utilizar a crença de George em "aliens" e "ovnis", para convencê-lo a levar sua mãe (então também apenas uma adolescente quase desconhecia por seu pai) no baile onde eles ficariam juntos. No baile, o colega de trabalho, Biff Tannen (Thomas F. Wilson) tira George do carro onde estava com Lorraine (Lea Thompson). Na confusão, George acerta um soco na cara de Biff, e fica com Lorraine.

Quando Marty retorna para casa, seu pai é um homem de sucesso. Escritor de renome, rico, e com o colega de trabalho como empregado, lavando seus carros.

É claro que não é apenas uma atitude que transformaria uma vida desta forma (isso é simbolismo, próprio de uma obra cinematográfica). Contudo, o que eu quero dizer é que apenas Marty soube da diferença que aquele soco fez na vida de seu pai. George viveu apenas uma vida. Para ele, quando "bobalhão" e resignado, aquele era o seu destino natural. Assim como, quando "homem de sucesso", ele estava colhendo os frutos do seu esforço durante toda a vida. Tentando ser claro, um não tem consciência da "existência" do outro. E da mesma forma acontece com todos nós. Não temos como saber como será o nosso futuro. Resta apenas fazermos o melhor que pudermos.

Não importa se queremos ou não, o futuro vai chegar. Cabe a cada um fazer o melhor possível para o seu.

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