16.12.04

35 anos de notícias

Antes mesmo de fazer jornalismo eu tinha a curiosidade em saber como se produz um jornal (impresso) diário. Eu me perguntava como era possível, já que são tantos pequenos detalhes que têm que dar certo diariamente para que se tenha um exemplar em mãos no outro dia. Quem lê, aposto, nem para para pensar nisso. O que sabe é que todo o dia tem jornal, e ponto.

Acontece que eu nunca tinha pensado em como se faz um telejornal diário. Na essência é bastante parecido, mas certos detalhes complicam ainda mais a situação. Primeiro, as reportagens de TV não são produzidas em ordem, e sim, montadas muitas vezes pouco tempo antes do jornal ir ao ar. Depois, existe uma questão de logística bastante complexa, pois enquanto o veículo impresso tem espaço "ilimitado" (considerando a quantidade de matérias que cabem em um jornal), o correspondente televisivo tem seu tempo limitado, e também tem que ser o mais abrangente possível. Principalmente se for um telejornal de abrangência nacional.

Apesar de ter a esperança de entender um pouco melhor esta "problemática", mais uma vez eu não sabia o que esperar de um livro, quando resolvi ler o do Jornal Nacional. A História é contada sempre pelo lado do vencedor, ou seja, sempre de uma forma favorável a ele. E é isso que vem à cabeça quando a Memória Globo lança um livro sobre aquele que é o principal telejornal do grupo e, há bastante tempo, o mais importante do país. Algo de propaganda, de auto-afirmação, como a própria Rede Globo adora fazer.

É claro que o livro exalta as qualidades do seu "produto", mas nem por isso deixa de ser muito interessante. Organizado de forma cronológica, ele conta desde os primórdios do jornalismo da Globo (antes mesmo do nascimento do JN), quando o trabalho era praticamente manual, até os dias de hoje, época das grandes coberturas e das matérias "especiais". O livro acompanha também mudanças que muitas vezes passaram despercebidas do grande público, mas que ajudaram a construir a imagem atual do Jornal Nacional. Entre elas pode-se destacar a saída de Cid Moreira da bancada do telejornal (onde permaneceu do início do telejornal, em 1969, até 1996), e a evolução das reportagens ao vivo.

A saída de Cid Moreira obedecia uma orientação do então Diretor de Jornalismo, Evandro Carlos de Andrade, que era a de colocar jornalistas como apresentadores, pois isto, segundo ele, daria maior credibilidade às notícias, e os mesmos passariam a fazer parte também da produção do programa. Hoje, William Bonner e Fátima Bernardes, além de apresentadores, são os editores do JN, sendo Bonner o Editor-Chefe.

O outro aspecto é ainda mais interessante. Hoje nem se pensa nisso, mas houve um tempo em que as transmissões ao vivo eram simplesmente impensáveis. A conversa "ao vivo" por telefone entre apresentador e repórter já foi uma coisa fantástica na sua época. Com a evolução das tecnologias o repórter conversando ao vivo com a fonte, ou mesmo com o apresentador, se tornou algo rotineiro, normal, mas por muito tempo isto foi algo extremamente difícil de ser feito.

Sem dúvida, o momento mais polêmico dos 35 anos do Jornal Nacional foi a famosa edição do debate entre Collor e Lula, às vésperas do segundo turno da eleição de 1989. O livro dedica quase um capítulo ao fato, incluisive transcrevendo a íntegra do debate, mas não chega a conclusões. Nos depoimentos, cada um dos envolvidos na edição dá a sua versão da história, e não se chega a lugar nenhum. De qualquer forma, eu considero o simples fato de eles terem "aberto" o assunto desta forma, algo bastante elogiável.

O livro também conta como foram pensadas, produzidas e executadas praticamente todas as coberturas especiais. Copas do Mundo, Olimpíadas, seqüestros, atentados terroristas, acidentes marcantes, e até mesmo a eleição de Tancredo Neves e a sua morte antes de tomar posse.

Bem, certamente haveria ainda muito para eu comentar, mas também não quero reescrever o livro aqui. Fica a mensagem de que o livro vale a pena, tanto para jornalistas e profissionais da TV quanto para o grande público.

Boa noite!

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