18.1.05

O Grande Irmão está te olhando...



A fórmula é simples. São 14 pessoas escolhidas, sendo 12 especialmente escolhidas e 2 "sorteadas". Dezenas de câmeras e microfones captando e registrando tudo o que se faz, o que se diz e muito do que se pensa durante quase 3 meses. Na teoria, nem todos são o que parecem. O "jogo" faz com que os participantes acentuem determinadas características que não tinham para sobreviver, e acabam se tornando pessoas "de plástico".

Meia-verdade. Em 4 edições do BBB Brasil, ou seja, considerando as cerca de 50 pessoas que já estiveram lá dentro, nunca se soube de um caso em que uma pessoa tenha se revelado de uma certa forma lá dentro, e outra minimamente diferente aqui fora. É verdade que nunca mais se teve notícia de mais de 30 dessas pessoas, mas as que apareceram continuaram sendo as mesmas. Ou seja, para não ter que acreditar que todos sejam de personalidade fraca ao ponto de modificar-la substancialmente em poucas semanas, o que o BBB faz, de certa forma, é apenas tornar as pessoas mais "instintivas". Nenhuma delas, ou praticamente nenhuma, chega a ser falsa consigo mesma. São apenas falsas entre si, e isto é algo quase natural do ser humano.

Tem gente que olha o Big Brother Brasil pensando: "Mas lá não tem graça, é sempre tudo igual". Com certeza! Só que, se pararmos para pensar, aqui fora também é sempre tudo igual. E as coisas nem variam tanto assim. Aqui, onde não há câmera alguma, muitas pessoas agem como se estivessem sendo vigiadas 24 horas. Pensam, se expressam e reclamam do que acham que todos devem pensar ou do que acham que é legal reclamar ou ainda do que os outros acham legal expressar. Eu conheço muitas pessoas que, volta-e-meia, entram em contradição consigo mesmo. Possuem toda uma forma "naturalmente preparada" de agir mas, em determinada situação expõe sua verdadeira opinião ou um ponto de vista controverso colocando "em risco" alguma afirmação anterior.

Será mesmo apenas medo de aceitação? Eu acho que é um pouco mais do que isto, ou um pouco diferente. Nós somos educados padronizadamente. Na grande maioria dos casos, a questão de "se adaptar para viver em sociedade" é levada a sério demais. Todos gostam de pessoas educadas, mas aquelas pessoas educadas a ponto de não aceitarem um não como resposta não são muito fáceis de lidar. Ao mesmo tempo, quem é muito "independente" também não é bem visto, mas talvez aí estejam, em alguns aspectos, os mais confiáveis. Eu não sou educado como os primeiros, por que eu procuro ser educado por entender como e por que o ser, mas eu também não sou o segundo, por que na maioria das vezes o "independente", na verdade, só está se protegendo de não ser aceito, criando um "personagem" que, de cara, não vai ser aceito, lhe poupando o trabalho.

Eu disse em uma outra oportunidade, o negócio não é necessariamente ser autêntico, é ser individual, dentro e fora da casa. Com certeza no "mundo real" existem milhares de pessoas que trabalham constantemente como câmeras, prontas para registrar e alardear qualquer passo em falso que se dê. A vida aqui fora é igualmente uma competição, e nem de longe tão "fácil" quanto aquela da casa perfeita. Aqui, a luta pela sobrevivência é constante, e só o fato de você sobreviver não significa que vá ganhar um milhão de reais.

O Grande Irmão está sempre nos observando. Estamos constantemente sendo avaliados, aprovados ou reprovados, elogiados ou criticados. Na verdade, todos os que me lêem são parte do Grande Irmão que me avalia, e eu sou parte do Grande Irmão de cada um. A diferença é que podemos estabelecer os limites da sua influência sobre nós, e o quanto ou como queremos exercer influência sobre alguém.

Acho que é de se pensar...
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