4.1.05

O mundo não é o bastante



"Eu quero!" É nessa simples frase que se baseia toda a publicidade. Há muito tempo o poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu um poema chamado "Eu, etiqueta!" no qual falava exatamente da quantidade de marcas que nos rodeiam, muitas das quais nós anunciamos sem nem mesmo saber a que se referem.

Para que serve afinal uma faca que corta até aço? Porque pagar um preço por um produto cujo similar, basicamente idêntico, custa até três vezes menos? Peraí... por que eu preciso trocar de carro mesmo? Sei lá... O fato é que eu quero aquele carro, e tem que ser aquele!! Porquê? Ora, por que ele é melhor que o meu, ou é mais bonito, é de um modelo mais novo.

Na verdade, a maior parte das coisas que compramos não são necessárias. E se tornam ainda menos imprescindíveis quando levamos em conta o esforço que temos que fazer para "conquistá-las", ou o que deixamos de comprar/fazer/conhecer em nome desta vaidade. Como você é?

Loira, olhos claros, peitos grandes, cintura fininha, quadris largos. Coxas grossas que vão afinando até o calcanhar. Uma lady no andar. Um sorriso de 32 dentes branquinhos. Cérebro? Não, não precisa. Mulher que pensa assusta!!

Loiro, mais de 1,80m, olhos claros, braços malhados e mãos grandes. Magro, mas nada exagerado. Viril, mas sem ser primata. Atencioso, carinhoso e independente. Que saiba escutar. Cérebro sim, mas não só "papo-cabeça".

Ah, é claro. Ambos brancos!!

Se você não é assim, trate de se apressar. Se não daqui a pouco sua vida vai passar na frente dos seus olhos e você não vai ter sido feliz. E isso é a mais pura verdade!

Como tudo na vida, isto se torna verdade no momento em que você passa a acreditar. Como Drummond disse, a gente acaba exigindo certas coisas das pessoas sem nem mesmo saber o porquê.

Por que Coca-Cola e não Fruky ou Pop-cola? Por que McBacon e não X-bacon? Humm... resposta? Porque sim!

É claro que tem gente que vai vir e dizer: "Coca é melhor que Fruky", "Mc é diferente de X", "Louis Vuitton não é qualquer bolsa". Ok, é claro que não é. Afinal, ninguém investiria milhões para fazer algo se pudesse o mesmo fazer com poucos reais. O que eu questiono não é o lado de "lá", mas o lado de "cá". Será que vale o esforço? Será que é mesmo necessário ser loiro(a), ter um corpo maravilhoso, uma Ferrari, um celular que tira foto e serve cafezinho e um(a) namorado(a) igualmente perfeito(a) para ser feliz? Acho que não...

Existe uma frase extremamente piégas que diz: "a beleza está nos olhos de quem vê" e, isto sim, é a mais pura verdade. O que a publicidade faz, e a sociedade, de um modo geral, segue lépida e faceira, é padronizar a beleza. Você acha "aquilo" bonito? Mas "isto" é muito mais, e tá todo o mundo achando muito melhor!

Eu não estou aqui fazendo uma campanha contra a Coca-Cola. Como eu disse, o problema não é lá, é aqui.

O que acontece é que a gente é treinado para cobrar muito de si mesmo e, por isso, a esperar sempre o melhor dos outros, seja no aspecto físico, social ou econômico. Isto cria um círculo vicioso difícil de quebrar. Quanto mais dinheiro a gente ganha, mais coisas a gente "quer" e mais dinheiro a gente "precisa".

Se eu acho que estou sendo original? Claro que não, eu sei que isso já foi dito antes, milhares de vezes. Mas a questão aqui não é ser original, é ser autêntico, ser... individual.

Agradecimentos especiais para a minha grande e querida amiga
Dea Mascarenhas, pelo logo e pela descrição do homem ideal

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