Um outro mundo é possível sim!
Em janeiro Porto Alegre sediou a 5a. edição do Fórum Social Mundial (FSM). Esta talvez tenha sido a mais polêmica de todas, e são muitas as razões para isto. Em primeiro lugar, a "esquerda" brasileira está agora dividida como nunca antes. Nas três outras oportunidades em que o FSM foi realizado na capital gaúcha (em 2001, 2002 e 2003), o evento era um símbolo da oposição, um "marco dos movimentos sociais contra governos neoliberais como o brasileiro". Em 2003, por sinal, o recém-empossado presidente Lula foi a grande estrela, marcando uma importante vitória do "povo" contra os burgueses. O "povo" chegara ao poder!!
Dois anos depois, a história é bem diferente. Não só a "esquerda" não encontrou em Lula o Messias que esperava, como também as mudanças profundas esperadas por todos não apareceram. A economia do Brasil apresenta, talvez, os melhores números da sua história, mas sem praticamente nenhum resultado prático. O "povo" que o elegeu, em grande parte, o considera um "traidor". Acreditam que ele chegou lá e, quando todos achavam que ele ia chutar a porta e jogar a mesa longe, ele parou calmamente, guardou o disfarce no armário e "se mostrou".
Besteira. É por isso que o Brasil é essa enorme engrenagem emperrada. Se o Lula era o Messias, nós somos judeus e continuamos esperando. Não estou dizendo que ele seja, por que simplesmente não existe esta fórmula mágica. O que eu digo é que não existe Messias. Foi-se o tempo em que um país poderia ser "tomado" e viver tranqüilamente isolado do mundo, como a Rússia e a China de décadas atrás. Nem mesmo Cuba, tão famoso último país totalmente comunista do mundo, está geo-economicamente isolado de coisa nenhuma.
Eu não sei "qual é a do Lula". Eu não sei se ele realmente acreditava no que ele dizia e, ao chegar lá em cima ele viu que "não era bem assim", ou se ele sabia, como a direita sempre soube, que não era bem assim, mas quis acreditar, ou fazer o povo acreditar que "era". O fato é que hoje o Lula não agrada nem a direita, a quem nunca agradou, nem a esquerda, que o elegeu.
É complicadíssimo, eu sei, mas para o Brasil "dar certo" e parar de ser "o país do futuro" (seja na música ou no relatório da CIA), é fundamental que o povo brasileiro entenda que as coisas não vão mudar para amanhã. O que se construiu em 120 anos (para ficar só na República), não se "destrói" instantâneamente. E, aliás, fica ainda mais difícil quando o "mundo" também está enraizado neste contexto "nocivo".
Na verdade, nem se "destrói". Se modifica, se reforma, mas não se destrói. Na verdade, as pessoas que hoje dizem que o Lula está "entregando o país", está "vendido" são as mesmas e continuam tão ingênuas quanto quando diziam que os outros presidentes estavam fazendo isto, e acreditavam que o Lula e o PT fossem "a solução", "um sopro de dignidade no meio desta corja".
O Lula não é santo, e tenho a certeza de que ele, pelo menos, sempre soube disso. Talvez ele se achasse melhor que "a direita", mas política sempre foi política. O jogo tem regras, e não se pode sair por aí mudando as regras à la vontê. Contudo, será possível que o Lula seja tão demagogo, tão hipócrita, a ponto de fazer todo este "teatro" nas negociações com os demais países sub-desenvolvidos (e com as grandes potências)? Será que, ao buscar uma posição de liderança no mundo, ele está se "vendendo" como pensam alguns, ou buscando uma alternativa para que, no futuro, o Brasil possa "pedir" ao invés de apenas "atender" como hoje em dia?
No discurso que deu aqui em Porto Alegre nesta quinta edição do FSM, o presidente Lula disse algo que eu considero muito interessante, e que demonstra bem o que eu estou tentando dizer. Ao comentar as vaias que estava recebendo durante a sua participação no evento, disse:
"... faz parte da democracia, um gesto democrático feito pela boca de quem não tem paciência de ouvir a verdade"
Este artigo foi originalmente publicado em
www.gatoraders.blogspot.com
durante o 5º Fórum Social Mundial
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durante o 5º Fórum Social Mundial
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