10.4.05

Uma brasileirinha


Quem não viu, veja. No final da etapa brasileira da Copa do Mundo de Ginástica, realizada na manhã deste domingo em São Paulo, Daiane dos Santos foi, mais uma vez, ouro. E mais do que isto, foi personagem de um momento histórico do esporte brasileiro. No meio da sua apresentação uma falha do sistema de som do Ginasio do Ibirapuera, mas ela se manteve dentro da coreografia até o final, acompanhando, ou sendo acompanhada, pelo ritmo das palmas que a torcida brasileira - que lotava o ginásio - batia dando força a nossa pequena notável.

Momentos depois, já no pódio, outro momento emocionante. Quando tocou o hino nacional a torcida cantou junto, cantando em coro até o final, mesmo depois que a música terminou. Isso tudo me lembrou dos melhores momentos do esporte brasileiro, nas conquistas do futebol, do vôlei ou, como era tradicional nas manhãs de domingo, na Fórmula 1.

Uma menina simples, humilde e muito determinada. Encontrada quase por acaso numa praça de Porto Alegre há alguns anos, e que já é, sem dúvida, uma das melhores ginastas do mundo. Quantos outros talentos, como este, não estarão perdidos entre nós? O Brasil é, sem dúvida, um dos países com maior potencial esportivo de todo o mundo, talvez atrás apenas dos Estados Unidos, e mesmo assim...

O que falta para o Brasil não são atletas talentosos, mas sim a culturalização do esporte. Aos que digam que nós somos um povo "esportivo", eu digo que não somos. Somos um país "futebolístico" e, ainda assim, só agora parece que chegamos perto do "primeiro mundo" no que diz respeito à organização. O futebol, aliás, é um bom exemplo desta realidade que se aplica a todo o nosso esporte. A nossa organização, e até mesmo a estrutura do nosso futebol são muito ruins, e os talentos aparecem sem qualquer interferência destes.

O exemplo do tênis é o mais triste. Ainda que o talento de Gustavo Kuerten seja indiscutível, ele apareceu quase por acaso. Ainda assim, não houve a preocupação, seja por parte das federações ou dos patrocinadores, de melhorar a base deste esporte no país, para manter o interesse do público e, aí sim, construir esta "cultura" no nosso povo. E o que aconteceu? Guga não joga mais o mesmo tênis de alguns anos, e não há substituto. Tudo indica que, em poucos anos, o atleta catarinense se una a Tomas Koch e Maria Ester Bueno, na história do esporte, como mais uma boa lembrança dos "anos de ouro" do tênis brasileiro.

O vôlei é o exemplo positivo. Os investimentos no esporte começaram nos anos 80, e deram seus primeiros frutos em 1992, quando a seleção brasileira foi campeã olímpica, fato, contudo, então surpreendente para grande parte do Brasil. O investimento prosseguiu, e hoje a visibilidade do vôlei é grande, comparada com os outros esportes (que não o futebol), e nossas seleções (masculina e feminina) estão sempre entre as melhores do mundo. Hipismo, natação e basquete são exemplos de esportes em que o Brasil volta-e-meia se destaca, mas sem grandes investimentos e/ou organização.

Agora é a hora da ginástica. Felizmente, o esporte parece estar organizado, e aos poucos começam a aparecer novos talentos brasileiros neste esporte. O nosso esporte merece, e o nosso povo também. Quem sabe se, com o investimento em esporte não venha também, em algum tempo, investimento privado em educação? Delimitando bem os limites desta relação, não há razão para impedir...

O futuro, entretanto, depende do presente. Sempre surgirão novas Daianes, novos Gugas ou, quem sabe, novos Sennas. Contudo, para que isto deixe de ser obra do caso e se torne algo natural, é preciso uma mudança de mentalidade também. É claro que sempre haverá pessoas que gostem deste esporte ou daquele, mas ser campeã mundial de ginástica não é menos do que o ser na natação, ou mesmo no futebol. É preciso que se entenda isso. Não é necessário que as coisas mudem para amanhã, mas é preciso que mudem!!

Enquanto isso, façamos reverência a talentos - como o da gauchinha Daiane dos Santos - que tiveram a sorte de serem encontrados e reconhecidos. Eles merecem.
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