26.2.05

Um outro mundo é possível sim!




Em janeiro Porto Alegre sediou a 5a. edição do Fórum Social Mundial (FSM). Esta talvez tenha sido a mais polêmica de todas, e são muitas as razões para isto. Em primeiro lugar, a "esquerda" brasileira está agora dividida como nunca antes. Nas três outras oportunidades em que o FSM foi realizado na capital gaúcha (em 2001, 2002 e 2003), o evento era um símbolo da oposição, um "marco dos movimentos sociais contra governos neoliberais como o brasileiro". Em 2003, por sinal, o recém-empossado presidente Lula foi a grande estrela, marcando uma importante vitória do "povo" contra os burgueses. O "povo" chegara ao poder!!

Dois anos depois, a história é bem diferente. Não só a "esquerda" não encontrou em Lula o Messias que esperava, como também as mudanças profundas esperadas por todos não apareceram. A economia do Brasil apresenta, talvez, os melhores números da sua história, mas sem praticamente nenhum resultado prático. O "povo" que o elegeu, em grande parte, o considera um "traidor". Acreditam que ele chegou lá e, quando todos achavam que ele ia chutar a porta e jogar a mesa longe, ele parou calmamente, guardou o disfarce no armário e "se mostrou".

Besteira. É por isso que o Brasil é essa enorme engrenagem emperrada. Se o Lula era o Messias, nós somos judeus e continuamos esperando. Não estou dizendo que ele seja, por que simplesmente não existe esta fórmula mágica. O que eu digo é que não existe Messias. Foi-se o tempo em que um país poderia ser "tomado" e viver tranqüilamente isolado do mundo, como a Rússia e a China de décadas atrás. Nem mesmo Cuba, tão famoso último país totalmente comunista do mundo, está geo-economicamente isolado de coisa nenhuma.

Eu não sei "qual é a do Lula". Eu não sei se ele realmente acreditava no que ele dizia e, ao chegar lá em cima ele viu que "não era bem assim", ou se ele sabia, como a direita sempre soube, que não era bem assim, mas quis acreditar, ou fazer o povo acreditar que "era". O fato é que hoje o Lula não agrada nem a direita, a quem nunca agradou, nem a esquerda, que o elegeu.

É complicadíssimo, eu sei, mas para o Brasil "dar certo" e parar de ser "o país do futuro" (seja na música ou no relatório da CIA), é fundamental que o povo brasileiro entenda que as coisas não vão mudar para amanhã. O que se construiu em 120 anos (para ficar só na República), não se "destrói" instantâneamente. E, aliás, fica ainda mais difícil quando o "mundo" também está enraizado neste contexto "nocivo".

Na verdade, nem se "destrói". Se modifica, se reforma, mas não se destrói. Na verdade, as pessoas que hoje dizem que o Lula está "entregando o país", está "vendido" são as mesmas e continuam tão ingênuas quanto quando diziam que os outros presidentes estavam fazendo isto, e acreditavam que o Lula e o PT fossem "a solução", "um sopro de dignidade no meio desta corja".

O Lula não é santo, e tenho a certeza de que ele, pelo menos, sempre soube disso. Talvez ele se achasse melhor que "a direita", mas política sempre foi política. O jogo tem regras, e não se pode sair por aí mudando as regras à la vontê. Contudo, será possível que o Lula seja tão demagogo, tão hipócrita, a ponto de fazer todo este "teatro" nas negociações com os demais países sub-desenvolvidos (e com as grandes potências)? Será que, ao buscar uma posição de liderança no mundo, ele está se "vendendo" como pensam alguns, ou buscando uma alternativa para que, no futuro, o Brasil possa "pedir" ao invés de apenas "atender" como hoje em dia?

No discurso que deu aqui em Porto Alegre nesta quinta edição do FSM, o presidente Lula disse algo que eu considero muito interessante, e que demonstra bem o que eu estou tentando dizer. Ao comentar as vaias que estava recebendo durante a sua participação no evento, disse:

"... faz parte da democracia, um gesto democrático feito pela boca de quem não tem paciência de ouvir a verdade"

Este artigo foi originalmente publicado em
www.gatoraders.blogspot.com
durante o 5º Fórum Social Mundial

924

22.2.05

O melhor do Brasil...


é o brasileiro....

Carioca, desempregado, malandro, apaixonado por futebol e pelo Brasil. Em certos aspectos, e apesar de ter sido criado por um estrangeiro, Zé Carioca é a síntese do que de melhor o brasileiro tem. É, também, um retrato fiel a este povo que "não desiste nunca", e segue acreditando em um futuro melhor.

Seu bom-humor, seu bom coração e sua incessante luta para sobreviver são ótimos exemplos de como se deve encarar a vida em um país como o Brasil. É fácil? Não, mas para ele também não é. Desempregado como grande parte dos brasileiros, nem por isso rouba, mata, mente ou reclama do mundo como se o direito que ele tem de ter uma vida melhor fosse só uma questão de governo, por exemplo. Ele sabe aproveitar o que a vida tem de bom, ali mesmo, na Vila Xurupita.

Ele não tem estudo, mas tem saúde. Ele não tem dinheiro, mas tem amigos. Ele não tem emprego, mas tem uma namorada e conhece muitas outras pessoas que estarão sempre ali quando ele precisar. É claro que não dá para dizer que, sendo alérgico a trabalho, ele seja um cara batalhador. Mas pelo menos ele é uma pessoa positiva, que sabe que a coisa mais importante da vida é o que temos agora, e aqui por perto, não o que poderíamos, deveríamos ou mesmo um dia teremos.

Isso é uma coisa que falta muito ao povo brasileiro. De todas as classes sociais, do pobre ao mais rico, falta humildade, simplicidade e respeito. Humildade para se reconhecer como parte do problema, e não como "imaculado ser no meio da sujeira". Simplicidade para enxergar, como o Zé, que o que vale é o simples, o cotidiano. Respeito, acima de tudo, para saber viver, verdadeiramente em sociedade. Saber que há diferença, por exemplo, entre não ter preconceito e dizer que não tem. De que adianta reclamar de tudo se, sempre que puder, a gente tira vantagem? Enquanto cada um pensar que "isto que eu estou fazendo não fará diferença", todos estarão certos.

Temos muitos problemas? Temos.. estruturais até. Só que a vida não é só isso, e o Brasil também não é. Vivemos num país continental, com um clima maravilhoso e uma cultura rica e diversificadíssima. Ao invés de valorizarmos isto, não, preferimos fazer comparações sócio-econômicas com a Europa ou os Estados Unidos (cujos povos há muito já entenderam isso), e reclamar de novo.

Eu sinto ter que dizer isto, mas, o país que todos esperamos não vai acontecer. Pelo menos não enquanto nós estivermos vivos. É ilógico e irracional exigir que 5 séculos se transformem em cerca de 10 ou 15 anos. Fazer toda a transformação que se espera então, levará outros 500. A única coisa certa é que, não importa o quanto melhore, nós (o povo) nunca estaremos satisfeitos.

Se me permitem a licença poética. Será que o Zé Carioca não pensa nisso? Aposto que pensa.. e aposto também que ele tem o mesmo desejo que nós todos, de que as coisas se resolvam, e para ontem!!! Contudo, ele não espera que o a solução caia do céu. Ele aproveita a vida dele, da melhor forma possível, enquanto espera...
895

21.2.05

Um garoto bonito...



"Eu nunca precisei trabalhar na vida". Eu gostaria de, quando for mais velho, olhar para trás e poder dizer que nunca trabalhei na vida. Não, não é que eu não goste de trabalhar, ou que eu tenha feito voto de pobreza nem nada. É que eu gostaria de descobrir, depois de muito tempo, que tudo o que eu fiz me deu um prazer tamanho que eu nunca realmente precisei fazer nada me sentindo obrigado, entendem?

"O sonho não acabou". Graças a Deus, eu nunca precisei trabalhar com nada que me desse repúdio ou que eu me sentisse diminuído.. É claro que eu tive momentos difíceis na minha ainda curta vida profissional, mas num panorama geral eu não tenho o que reclamar. Continuo com a esperança de um dia poder dizer que fui feliz "sem esforço".

Eu realmente tenho este sonho, e realmente gostaria de, no futuro, poder dizer isto. O único detalhe é que nenhuma destas duas frases são minhas. Elas são de um dos maiores artistas do século XX, o grande John Winston Lennon. Assim como outra que eu recentemente citei aqui no Impressão Digital, e que eu também acredito muito: "A vida é o que acontece enquanto pensamos em outras coisas".

Lennon foi um homem fantástico. De líder dos "Quarry Men", na adolescência até a prematura morte em Nova York foram 20 anos marcando a história com o seu talento, seus pensamentos e até mesmo com a sua própria biografia. Quem conhece os Beatles a fundo sabe que, desde o início (quando Paul entrou no "Quarry", começando a formar o grupo que se tornaria o mais famoso do mundo) John Lennon já demonstrava traços da personalidade que determinariam o rumo de toda a sua vida. Na música, a sua auto-confiança poderia, muitas vezes ser confundida com arrogância, mas não passava de consciência sobre o seu próprio potencial. É claro que ele cometeu exageros, mas um dos maiores e mais lembrados destes, na verdade, não passa de um mal-entendido.

O que ele disse foi: "Os Beatles são mais populares que Jesus Cristo". E não são? Ele não está dizendo mais importante, ou maiores, apenas mais populares. Se levarmos em conta a geração ´60 então a coisa fica ainda mais clara. No Oriente, por exemplo, ninguém conhece Jesus, e todos conhecem os Beatles. Acontece que a própria geração ´60 foi quem não compreendeu o que ele estava dizendo, e ele foi obrigado a se desculpar.

Depois do fim dos Beatles, Lennon continuou sua carreira solo com uma série de composições que marcaram o século. "Give Peace a Chance", "Stand By Me" e a imortal "Imagine" são alguns dos maiores sucessos da carreira solo deste pacifista que morreu nas mãos de um fã inconformado.

Lennon merece todas as homenagens. A sua morte, inclusive, serve para torná-lo ainda mais mítico, mas não deforma, nem positivamente, o seu valor. John Ono Lennon (ele mudou seu próprio nome quando casou com a japonesa Yoko Ono) trabalhou todos os dias da sua vida desde o seu primeiro encontro com Paul McCartney, no subúrbio de Liverpool. A rotina beatle era, muitas vezes, ingrata. Mesmo assim, o amor dele pelo que fazia era tanto que um dia ele disse que o que lhe deixava mais feliz é que ele nunca tinha precisado trabalhar na vida.

Há bastante tempo eu queria prestar esta homenagem a Lennon. Contudo, eu resolvi fazê-la agora pois descobri que uma frase que eu usei em outro texto, na verdade é uma tradução de dois versos da música "Beautiful Boy" (A vida é o que acontece enquanto pensamos em outras coisas / Life is what happens while you´re busy making other plans), do próprio.

Naquele texto eu disse que a frase não era minha, mas que, como acontece com muitas outras frases famosas em determinadas situações, ela cabia no momento que eu estava vivendo. De certa forma, já naquele instante eu prestava uma homenagem a ele, pela sensibilidade de expressar o que eu estava sentindo. Isto é algo muito bom de se fazer, e muito importante também. É até mesmo uma questão de respeito!
881

18.2.05

Pensando em alguém...



Hoje eu acordei
pensando que não sei
o que eu vou fazer
para sobreviver;

Ouvindo música,
ou na internet,
perdendo tempo,
mascando chiclete;

Quero um poema,
que seja sem rima,
ponto nem trema,
de baixo pra cima;

Preciso de alguém,
que precise de mim,
tão perto de Deus,
tão longe do fim;

Que não seja perfeito,
pois também não sou,
que ame o meu jeito,
como ninguém amou;

Que goste de amigos,
de cinema e de flores,
não tema o perigo,
nem morra de amores;

Que cresça comigo,
e me ajude a crescer,
que me mostre o que é bom,
de nesse mundo viver.

Quero alguém simples,
assim como eu,
ou que simplifique,
o nó que me deu;

850

16.2.05

Longe é um lugar que não existe...



Semana passada eu fui ao aeroporto. Quando a pessoa que fui acompanhar até lá embarcou, eu comecei, despretensiosamente, a olhar em volta.

Eu vi pessoas chorando, por causa da despedida. Uma senhora abraçava uma adolescente como se nunca mais fosse vê-la. Ao redor, cinco amigas da passageira do próximo vôo choravam discretamente. Não sei para onde ela estava indo, nem por quanto tempo.

Nas cadeiras, perto dos balcões de check-in, muita gente cansada. Algumas pessoas gritavam, outras estavam pensativas olhando para o nada. "Outras duras despedidas", eu pensei. Não falei com ninguém. Mesmo que a minha "missão" no aeroporto aquele dia estivesse cumprida, eu resolvi continuar reparando... Peguei o elevador e desci até o portão de desembarque.

Três pessoas seguravam placas. Uma informava o nome da pessoa, e duas o nome da empresa, ou algo assim. Li novamente o nome do passageiro que era esperado, e me perguntei: "Quem será? De onde ele vem?". Eu mesmo me estranhei tendo aquele tipo de curiosidade, afinal, fosse quem fosse "ele" é apenas mais um. Assim como eu, seja quem eu for, para toda essa gente a minha volta, sou apenas "mais um". Somos todos praticamente invisíveis...

Quando me aproximei da porta por onde os passageiros saem depois de pegar suas bagagens, reparei em um rapaz, mais ou menos da minha idade, que esperava por alguém. Ele olhava nervosamente para o relógio, numa mistura de apreensão e ansiedade. Pensei em falar com ele, mas, falar o quê? Decidi ficar e esperar para ver o que ia acontecer.

Um pouco mais atrás, o que parecia ser uma família estava esperando alguém. Não consegui definir se era um adulto ou um adolescente, mas alguém estava prestes a, me parece, ser muito bem recepcionado.

Me lembrei da minha infância, quando ir ao aeroporto era um acontecimento. A gente ia até lá só para ver os aviões subindo e descendo. Contudo, não íamos buscar ou deixar ninguém, estávamos lá como poderíamos estar num parque, ou numa lanchonete.

Comecei a pensar em como a vida é engraçada. O aeroporto é, reconhecidamente, um lugar de grandes emoções. Tanto para quem parte, como para quem fica, ou para quem chega, como para quem está, aquele momento é especial. Um último beijo, uma última palavra, um primeiro e fraterno abraço.

Subi até o terceiro andar, de onde se pode ver os aviões partindo. Não tinha muita gente. Caminhando por ali, entretanto, a emoção daquelas pessoas era marcante. Pais e mães chorando, crianças de colo olhando curiosas sem ao menos se dar conta do que estava acontecendo, e muitos comentários do tipo: "O dela é aquele ali...", na esperança de, quem sabe, não ter perdido a partida de alguém que nos é tão caro.

Quantas histórias acontecem simultâneamente em um aeroporto. Quantas famílias se separam e se reúnem, quantos amigos se reencontram ou se preparam para encarar juntos uma importante viagem. Quantas expectativas, quantas surpresas, quantas decepções... A todo o momento, pessoas choram de alegria e de tristeza, sonhos são realizados e destruídos, vidas são transformadas quase sem se notar.

Resolvi ir embora. Na fila para pagar o estacionamento, encontrei o cara apreensivo de antes. Ele agora estava acompanhado de uma bonita garota que, pelo jeito, está tão feliz quanto ele.

Olhei para ele, ele olhou de volta e me cumprimentou. Respondi ao cumprimento e, discretamente, sorri. Ele não faz idéia de que estava sendo observado, e nem notou todas as histórias que aconteceram enquanto ele esperava o fim da sua agonia.

Ao sair do aeroporto, já dentro do carro, me lembrei de uma frase que eu li certa vez, e que me pareceu muito correta naquele momento: "A vida é o que acontece enquanto pensamos em outras coisas...."

Pura verdade...
833

14.2.05

Em busca de si mesmo... - em 4 atos


Peço licença para contar uma história...

Era uma vez, um adolescente. Inseguro, quase tímido. Ele tinha amigos, mas poucos. O último ano havia sido o mais difícil da sua vida, mas ele sabia que o pior ainda estava por vir. Tinha aquela arrogância comum aos que, como ele, terminam o segundo grau e se preparam para caminhada universitária. Passou pela cabeça dele "dar um tempo" antes de fazer faculdade e dar um rumo à sua vida, mas acabou passando direto no vestibular. Não que ele fosse gênio, o exame é que não exigia quase nada.

Ato I - Um ótimo começo (1996)

Ainda que o pai dele não acreditasse, ele tinha passado. Faixa na janela: "Parabéns! Daniel - Informática/Ulbra 1996". Na verdade, não era bem o que ele queria fazer da vida, mas nem ele mesmo tinha certeza disso nesta época. O importante era a conquista, e o novo desafio.

Profissionalmente, um ano tranqüilo. Foi nesta época que começou a nascer uma nova personalidade. Sua facilidade para aprender lhe dava segurança, e isto ficaria cada vez mais claro nos anos seguintes...

Pessoalmente, o ano foi muito bom. Até hoje este ano é marcadamente um dos melhores da sua vida. Além de ter conquistado uma nova grande amiga , outra amizade dos tempos do colégio se fortaleceu bastante, e seria perpetuada nos anos seguintes. No segundo semestre ele conheceria outra pessoa muito importante, ainda que de uma forma "virtual" no início. Em setembro ele participaria de um retiro de jovens, onde também aprenderia muito e conquistaria amigos importantes.

Para fechar, 15 de dezembro. Grêmio Bi-campeão Brasileiro. A vida acadêmica estava prometendo muito!!

Ato II - Perto do Inferno (1997)

No segundo ano de faculdade, as lembranças de colégio já não eram mais tão recentes, e ele começou a sentir que não era Informática o que ele queria. Contudo, como não tinha ainda certeza sobre o que queria se não fosse informática, seguiu em frente.

O primeiro semestre foi de grandes dificuldades e, pela primeira vez, ele foi reprovado em uma disciplina. Mal sabia ele o que viria em seguida...

Passadas as férias de inverno, sua vida acadêmica entraria em uma crise que só seria definitivamente vencida anos depois. Pessoalmente, problemas e algumas alegrias.

Foi naquele semestre que se formou, meio que por acaso, a "Gang do Algodão Doce". Era um grupo de 7 amigos que conviveram intensamente durante alguns meses e, sem dúvida, marcaram a sua vida. Na família, um susto. Seu pai sofre um acidente longe de casa. Sua mãe decide acompanhá-lo na recuperação. Com a irmã morando fora, ele fica sozinho em casa. Na época, esta situação era sinônimo de descompromisso com a faculdade que não o "completava"...

Em agosto ele voltou para a faculdade com o objetivo claro de passar na disciplina que ele teria que repetir. Conseguiu, mas também, só nela. Por razões que incluem a sua situação em casa, entraram neste semestre mais 4 reprovações para a conta.

Ato III - O Fênix e a última chance (1998)

O verão de 1998 foi muito difícil. Ele estava avisado de que se fosse reprovado mais uma única vez, perderia o "paitrocínio" da faculdade.

Sem problemas. Se esforçou, e passou em todas as disciplinas nos dois semestres. O que deveria ser um comportamento natural se transformava em um ato de heroísmo.

Em junho, a primeira viagem para São Paulo. Mais alguns amigos e muitas histórias. Em outubro, o primeiro e mais curto namoro, que teria desdobramentos decisivos no ano seguinte.

Ele fechava o ano decidido a se formar na informática, pois tinha encontrado coisas que lhe agradavam na área. Por um movimento dos colegas junto à coordenação do curso, se tornara Presidente do Centro Acadêmico, e se preparava para iniciar um curso técnico reconhecido por uma das grandes multinacionais da área de tecnologia.

Conversando com um amigo, comentou: "Se a Informática não me "pegar" agora, não me pega nunca mais...."

Ato IV - Tudo ou nada (1999)

Ele não imaginava o quanto estava certo quando fez aquele comentário...

Apesar de estar entrando no seu 7º semestre de faculdade, no currículo ainda estava por fechar o 4º. Ele não tinha pressa em se formar, e acreditava que, depois de um ano de sucessos, a vida profissional poderia começar a andar "sozinha". Era a hora de cuidar da vida pessoal...

Ele voltou a ficar com a problemática namorada do ano anterior. Não durou. Deu tempo, contudo, de ele desistir do curso técnico e largar o C.A. Tempos depois ele começou a se aproximar, tanto fisica quanto afetivamente, de outra garota. Antes que ele pudesse imaginar, se tornaram muito amigos, e ele descobriu que a recíproca se tornara verdadeira. Ficaram.

Uma semana depois, ela voltou atrás. Queria o amigo de volta. Nunca mais foram amigos.

Epílogo - Vagabundo confesso... (1999/2000)

Aquela foi uma noite difícil. Junho. Ele resolveu tentar de novo e foi conversar com ela. Ela manteve a posição e disse que "não saberia perder o amigo se eles terminassem o namoro". Perguntada, ela confirmou. Ele "perdeu" por que era legal demais...

Ele nunca pretendera ser "legal demais". Para ele, ser "legal" já estava de bom tamanho.

Voltou para casa. Olhando para trás ele viu, claro como nunca, que estava no lugar errado. Ele não queria fazer Informática, nunca quis. Tanto que seus amigos eram do direito, da psicologia... das "Humanas", não das "Exatas" e nunca do seu próprio curso. Agora ele entendia que as várias vezes em que foi reprovado e a displicência com a qual ele sempre tratara a faculdade tinham muito de um "sincero" desinteresse. Era um não querer, de verdade, fazer aquilo. Neste momento ele via que de uma certa forma ele conseguira o tal "tempo" que queria entre o fim da vida escolar e o início da vida universitária.

Chegou em casa e abriu o jogo. Depois de bastante tempo, tinha sido reprovado em mais 2 disciplinas. À ameaça de que seu pai fosse tirar ele da faculdade, respondeu com um simples e sonoro:

"Finalmente!!".
813

12.2.05

Eu já não sou mais um baixinho...



Xuxa,
Em primeiro lugar, gostaria que tu soubesse que hoje eu estou realizando um sonho de infância. Lembro das milhares de vezes em que, assistindo ao teu programa, entre desenhos e brincadeiras de meninos contra meninas, tu lia as cartinhas dos teus fãs, como eu, e sempre dava um presente para eles. "Nunca é tarde", eles dizem.. E eles também dizem "Antes tarde do que nunca". Então, mesmo depois de tanto tempo, eu estou te escrevendo.

O que eu vou querer ganhar? Não sei, não pensei nisso... Bicicleta eu tenho, video-game eu não uso mais, ir no teu programa não dá... nossa, ficou complicado, hein?

Quero te dizer que a saudade que tenho do teu programa é quase a saudade que tenho da minha infância. Até a 4a. série (1988) eu estudei à tarde , mas tinha que acordar cedo para ver o "Xou". Manda um abraço para o moderninho, para o Praga e para o Dengue. Me lembro também que com você eu aprendi, entre outras coisas, a brincar de índio e a falar com o abecedário "da Xuxa".

Quantas vezes eu brinquei de "dança das cadeiras", "cabra-cega" e muitas outras brincadeiras que eu via diariamente no seu programa? E os filmes!! "A Princesa Xuxa e os Trapalhões" e "Lua de Cristal" (que já era mais para a minha irmã, mas em todo o caso...) são os que eu guardo lembrança mais forte.

É claro que não poderiam faltar os desenhos animados. Impossível lembrar de todos, mas eu me lembro que eu adorava o He-Man, a She-ra, os Smurfs, os "Snorkels", e os Thundercats. Eu até fiz um aniversário "temático" dos felinos de Thundera uma vez... Tinha também os Super-Amigos, e eu me lembro que, por muito tempo, foi a marcação da hora da "merenda" em casa, já que era bem no meio da manhã. Contudo, o meu desenho favorito era, sem dúvida, Caverna do Dragão. Erick, Mestre dos Magos, o Vingador e companhia!! Até hoje se discute o "verdadeiro" final daquela série...

Já se passaram quase 20 anos, e é claro que eu não gostaria que tu voltasse. Como eu disse, isso me faz lembrar da minha infância, aquela época feliz e inocente, sem preocupações. Hoje, quando eu vejo uma criança deslumbrada com o "óbvio", sinto saudades do tempo em que eu era, ou em que eu poderia ser assim. Mas daí a dizer que eu preferia ser criança de novo vai uma distância. Tudo na vida tem seu tempo, e a minha infância, graças a Deus, foi muito bem aproveitada...

Bem, acho que é isso. Vou pedir que tu fique viva na minha lembrança como uma época feliz na cada vez mais longínqua infância...

E o beijo vai pra quem? Pra minha mãe, pro meu pai e pra você!!

790

2.2.05

Um encontro veríssim(o)el...

Um dia um amigo me convidou para um jantar em sua casa. Me explicou que era um jantar apenas para os amigos mais íntimos, em comemoração ao seu aniversário. Pouca gente. Além da família, eu e outro amigo dele, e alguns amigos de seus pais.

Cheguei com este outro amigo. A mãe do anfitrião nos recebeu, e nos encaminhou até a sala. Eu estava nervoso, pois o momento parecia bastante formal. Todos bem vestidos, com empregados servindo e tudo o mais. Eu, recém saído da adolescência, me sentia deslocado, mas estava muito feliz por estar ali. Para mim, era o reconhecimento de uma grande amizade.

E nem prestei atenção aos nomes que a mãe do meu amigo estava dizendo enquanto eu cumprimentava os presentes. Estava zen, apenas beijando respeitosamente as senhoras e apertando a mão dos senhores. Um deles me pareceu familiar, mas nem parei para perguntar qualquer coisa. Terminei de cumprimentar a todos, e fui para o quarto, onde já estavam meus dois amigos.

Ao chegar lá, o que havia entrado comigo estava emocionado. Sorrindo, quase incrédulo. Eu perguntei: "O que houve, por que você está assim?", ao que ele me respondeu: "Como assim, por que eu estou assim?!? Tu não viu que o Veríssimo tá ali fora??"

Eu bati com a mão na cabeça, e me sintonizei ao estado de choque do meu amigo. "Como eu não pensei nisso.. o Veríssimo!" Eu me senti bobo, por estar emocionado. Quantas coisas me passaram na cabeça para dizer para ele. A vontade que eu tinha era de voltar para a sala e sair falando, mas, além de não ser de bom tom, era "levemente" desnecessário. Jantamos todos na mesma mesa. Eu, o Veríssimo, e os outros. Nesta época eu estava mais para os computadores do que para as palavras, mas já o admirava muito. "As Comédias da Vida Privada", "Ed Mort", "O Analista de Bagé", a "Família Brasil" e "As Cobras" são alguns dos inúmeros exemplos da genialidade deste grande talento gaúcho. Escritor, cronista, cartunista e ser humano de mão cheia, Luis Fernando Veríssimo me orgulha, por ser meu conterrâneo, e me encanta com sua sutileza e com seu humor ao mesmo tempo tão simples e tão inteligente.

Esta é uma história real acontecida, calculo, há quase uma década. Nunca mais o encontrei numa situação pessoal como esta (apenas em eventos ou encontros onde ele seria a celebridade), nem jamais expressei o quanto o admiro. Contudo, não é segredo para ninguém que, para mim, ele é um dos maiores gênios da literatura brasileira contemporânea.

Fica a minha homenagem com esta tirinha de "As Cobras", personagens que ele parou de fazer há alguns anos, com a inteligência de quem sabe o momento certo de se dedicar a cada coisa, e terminar todas elas sempre no auge..



734